24 de abril de 2008

Encontro no escuro (ultima parte)

Não possuía vontade de voltar, mas o fiz. Era o meu dever, minha obrigação. Por mais que não gostasse dali, eu teria que voltar e zelar por aqueles moradores, independentemente dos meus sentimentos. Se eles ao menos compreendessem isso... Mas ao invés de reconhecerem, me ridicularizam por eu gostar de pesquisar sobre humanos e não deixar os vampiros matar-los...
Como o esperado, não fui bem recebida n’O Castelo, Cornell me esperava a horas na sua cadeira em frente a lareira, naquela posição usual com as mãos cruzadas sobre o peito.
-Demoraste a voltar!
-Não devo satisfações a você, nem muito menos a que horas saio ou volto para este castelo! – bastava!Não queria falar mais nada!Continuei andando.O fato de ele ter me esperado durante toda aquela noite não me influenciava em nada, já estava amanhecendo e eu não queria mais ouvi-lo...
Andei pelo corredor de um dos meus quartos naquele castelo, um enorme corredor com grandes tapeçarias, quadros pendurados e esculturas de anjos negros ao redor.Cornell me perseguia.
-Você não é dona deste castelo!
-E nem você!
Ele esperava que eu aceitasse aquelas palavras, que me curvasse, me desculpasse. Mas eu estava longe de dever-lhe explicações! O que foi de total contragosto a ele que eu não dissesse nada do que acontecera...
-Ora você...
-Eu pelo menos um dia serei dona deste castelo e prezo pro estes moradores! Mas não significa que não possa sair, que tenho de viver, como vós, trancada neste castelo!
-Está doida para assumir o cargo....
-E enquanto a você? Não é por isso que queres se casar comigo?
Havia tocado no ponto fraco de Cornell, o que sempre o deixava sem reação ou mesmo articulação: o nosso casamento. Meu pai havia prometido a minha mão em casamento a Cornell, mas eu nunca aceitei! Desde a primeira vez que nos vimos não me simpatizei com ele.
Ele tentou fugir, mudar de assunto, fazer com que confessasse de qualquer forma por onde andava. E claro que eu não iria contar...
-Se prezasses por esses moradores como diz daria o que comer a eles!
-Possuem comida suficiente para um mês, se já comeram tudo a culpa não é minha!
-Alguns se recusam a comer animais
-Pois que morram de fome então!!!
-Olha bem como tu falas!
-Não meço o tom de minhas palavras e nem como as uso com ninguém, e você não será o primeiro, General Cornell! A sua função é preparar esse castelo para que caso; e veja bem, somente caso ocorra uma batalha, todos nós fiquemos protegidos. De minha função cuido eu, e não o senhor. Passar bem! - Bati a porta na sua cara. O que deve tê-lo deixado com os nervos aflorados.
Desesperado, ainda tentou jogar um ultimo recurso... O meu ponto fraco... Meu pai...
-Falarei ao Mestre sobre isso.
-Meu PAI está ciente de meus atos , e os apóia , deixe-me em paz !E não force a porta!....se não você morre!

Eu não estava para brincadeiras. Ele sabia disso. Tinha poder suficiente para mata-lo.Apesar de ser um dos poucos vampiros que ainda possuía sangue puro – um dos principais motivos pelo qual meu pai quis que me casasse com Cornell – eu o odiava acima de tudo, sua arrogância, seu jeito de colocar os vampiros a cima dos humanos, odiando-os mais que qualquer outra coisa; afinal, que culpa eles – humanos – tinham ? Simples vitimas de uma fome insaciável, incontrolável.
Estava exausta, resolvi dormir. Tudo ainda estava muito confuso na minha cabeça, Husisfel, Denelior, os habitantes d’O Castelo. O sol não me afetava, mas naquele dia, me senti indisposta a enfrentá-lo. Adormeci por um longo tempo, não sei ao certo o quanto. Talvez alguém tenha se preocupado com isso. Talvez não.
O que importa, e o que me lembro, são os sonhos daquela noite, resquícios de minha memória. Anos passados, gloriosos, de grandes reis, de grande prosperidade; esquecido, não somente por mim, como por muitos.Onde toda a minha história começa a fazer sentido...

13 de março de 2008

Encontro no escuro ( continuação )

A noite me acolhia, me entrelaçava em um abraço aconchegante, um abraço de mãe. Uma mãe que entende o pesar da filha... Não sei ao certo dizer o porquê, mas, antigamente, aquele castelo não me retinha ali, era como se eu não pertencesse a ele, como se a todo o minuto ele me expulsasse, como se eu ou ele fossemos algo podre. Mas nos braços do frio do vento eu me senti confortável, e deixe-me levar por ele, deixe-me enrolar por seus braços e que eles me guiassem. Caminhei por tanto tempo que nem lembro, talvez horas, minutos ou segundos, não sei ao certo... Entrei por diversas ruas, diversas praças, milhares de alamedas, ia bifurcando a cidade, dividindo-a entre o vento e a sua ausência. Nada me importava naquele momento, olhares, risos, suspiros, a única coisa que me importava era seguir o vento, seguia-o com uma sede tamanha que mal conseguia ouvir mais alguma coisa alem dele. Até que uma rua me chamou a atenção, o vento batia de todos os lados, sem rumo, indicando uma única casa, poderia ser qualquer rua, poderia ser qualquer casa, mas era a Alameda 21 e a casa de numero 67, uma casa comum de dois andares, com estilo europeu em sua arquitetura.
Estava tudo muito escuro, um momento perfeito para que eu entrasse despercebida. Não precisei bater, arrombar, nem muito menos abrir, simplesmente eu estava lá dentro quando quis estar. Talvez seja possível dizer que há qualidades em ser uma vampira... Nesses casos chegasse a acreditar.
A casa de numero 67 era uma casa ampla, eu estava na sala, onde se encontrava uma saída para um corredor e uma escada em forma de espiral! Ao meu lado direito havia a sala de janta, onde uma mãe chorava em desespero. Ainda me lembro bem das lágrimas daquela mulher. Algo desesperado, algo inexplicável, uma dor que só mãe é capaz de sentir. Ao meu lado esquerdo havia um grande escritório onde um homem escrevia apressadamente uma carta sem expressar um único sentimento pelo choro de sua mulher. Ele se levantou daquela cadeira, e andou em direção à ela. Percebi que eu não estava mais segura ali, podia ter passado pela porta, mas precisava me esconder. Ele passou e não me viu. Eu me escondi como queria, estava invisível aos olhos daqueles humanos descrentes. E mais uma vez os poderes de vampira me ajudaram. Tento fervorosamente até hoje não usa-los, até hoje não quero tê-los, mas quando as circunstâncias pedem, eu não hesito!
-Aqui esta tudo o que você e aquela criança precisam!!!! – Nunca vi um olhar igual aquele, uma mescla de ódio, de repugnância, de desprezo. Uma mistura de tudo isso e um pouco mais estavam no olhar daquele homem! Mas a mulher só fazia chorar, se lamentar, não falava uma única palavra.
Depois de muito tempo, gaguejando em meio às lagrimas e ao amontoado de lenços de papel em cima da mesa, ela conseguiu dizer...:
-Por favor, não vá!
Essas palavras enfureceram o homem. Ele não agüentava mais, não poderia suportar aquela situação. Teria chego o final de tudo. Ele não iria compactuar com aquilo...
-Tem idéia do que acabou de falar? Aquela criança não é minha, ela é filha de um “cara do demônio”, “ta achando” que eu vou viver com uma VAGABUNDA que me traiu e um “filho do capeta”? Vai mentir no quinto dos infernos com a tua família de pecadores, sua PUTA!
Ninguém merecia ouvir aquilo! Mas o amor engole qualquer coisa na esperança de nascer de novo...
-Não! Não, não... não!!! Eu te amo!!! Não vá!Eu imploro!!! Nosso filho...
-ELE NÃO É NOSSO FILHO!
Ele levantou a mão a ela... Não vale a pena relatar o decorrer do que aconteceu depois disso, não é importante, e eu também não quis ficar lá para ver. Os humanos são menos sábios que nós por não carregarem a experiência de tantos anos nas costas, e alguns ao invés de ficarem mais sábios, acabam se tornando mais ignorantes...
Tratei com indiferença aquilo tudo, não era isso que eu procurava. O vento ainda soprava... Subi as escadas, e sem querer esbarrei em um menino, não me preocupei muito, ele não me veria...
- Cuidado por onde anda, moça...
Mas viu... e como poderia?
Ele era encantador... Tinha os olhos amendoados, cabelo castanho claro e um rosto misterioso, onde nunca consegui identificar seus sentimentos por ele.
- Me...desculpe.
-Não tem problema, moça. Moça, porque meus pais estão brigando? Eu não entendo, moça...
- Mas, tu... tu consegues me ver?
- Claro que sim! Mas meus pais não acreditam em nada do que eu vejo...
Temi fazer aquela pergunta, descobrir algum filho de um vampiro fugitivo, ou algo pior...
- Qual o seu nome?
- É Hussifel, moça! Hussifel Diethiel.
Não era ninguém, não pertencia a lugar nenhum e nem ao menos possuía traços de vampiro...Como poderia, então me ver?
-Mas e você, moça? Qual o seu nome? Eu nunca vi ninguém igual a você... Aqui eu só vejo fantasmas... Você não é um fantasma não é, moça? Você me toca, tem cor e uma áurea tão escura...
Os desenhos animados na TV em preto e branco haviam mudado o conteúdo... Como ele sabia de tudo aquilo?
-Meu nome é Enelya, Hussifel. Eu...
Um grito medonho surge do andar de baixo. O pai de Hussifel havia jogado sua mulher contra a escada e sua cabeça bateu com força no metal. Ele a deixou ali, como se bastasse, como se depois de tantos tapas e murros a sua raiva tivesse passado e só restasse o desprezo...
-MÃE!
-Vá para o seu quarto Hussifel, mais tarde eu lhe cubro... mais tarde...
Ela ficou deitada, imóvel, sentindo aquela dor, aceitando seu erro, pensando que merecia aquilo tudo. Hussifel foi obediente, subiu ao quarto como a mãe havia lhe ordenado.
-Você vem, Enelya?
Hesitei... Deveria? Não saberia se não arriscasse! Segui-o.
O quarto de Hussifel, o ultimo do corredor do segundo piso, era um quarto simples, como o de qualquer outro garoto em sua idade. Havia uma cama azul do lado a janela, que dava pra uma árvore grande, havia um guarda-roupa de marfim ao lado da cama e bem em frente dela uma cabeceira com um monte de livros e brinquedos. Ele deitou em sua cama e eu sentei ao seu lado.
-Eu sabia que ele iria embora...Eu sempre amei o papai, não sei porque ele nos abandonou, moça. Eu o amo muito! E mamãe também.
Senti pena daquele humano... Era a primeira vez que eu conversava com um. Fiquei tensa, mas ao mesmo tempo curiosa para descobrir mais sobre ele e aquele mundo. Mas principalmente sobre ele, que eu sabia, e também qualquer outro poderia ver (sendo humano ou vampiro), que aquela criança era uma criança especial.
-Posso te tocar?
Receei... O que havia de mais em ele me tocar? E o que não haveria? Não pensei, apenas estendi minha mão, e ele entrelaçou seus dedos com os meus.
-Eu posso te tocar...Que pele fria você tem, moça!
-Me chame de Enelya...
-Enelya...você é um fantasma, Enelya?
-Um espírito sem rumo, como vocês chamam de fantasma... de certeza não é o que sou...
-Então...O que é? Ninguém te viu entrar na sala, mamãe olhou na sua direção e não fez nada! Porque sou eu te vi, Enelya?
-Eu também gostaria de saber o motivo, Hussifel...
-Mas então... O que você é, Enelya? Pensei que você vinha responder todas as minhas perguntas...
- Hussifel... Hussifel, tens certeza que tu queres saber o que eu sou?
- Porque não? Você não gosta do que é? É isso, Enelya? Você não quer me contar porque não gosta, não é?
- De certa forma sim, Hussifel. Mas eu nasci assim, fui criada assim e não terei outra escolha. Pago um preço alto por ter nascido assim, sabia?
-Não... A senhora é tão forte! E tão bonita... como é que a senhora tem que “tá” pagando preço?
-Eu sou uma vampira, Hussifel!
Fiquei com medo de ter assustado o garoto, de que ele pensasse que o atacaria a qualquer momento, que o abriria com os meus dentes antes de ele ir pra cama, medo de que ele pensasse que eu era sinônimo de morte... da sua morte! E posteriormente da morte das pessoas que ele tanto ama... Pra minha surpresa, ele não demonstrou nada ficou parado me olhando por um tempo. Aquele olhar... Fez-me abaixar a cabeça, sentir-me envergonhada pelo que eu era, pelo que eu sou! E então, ele deitou no meu colo e agarrou-se as minhas pernas...
-Você tem o cheiro e o calor do vento...
Passei a mão pela sua cabeça, será que ele não tinha escutado o que eu falei?
-Você não tem medo de mim, Hussifel?
-Não!
-Mas eu mato gente pra sobreviver...
-E eu como um monte animaizinhos.
-Eu poderia lhe matar...
-Você não vai fazer isso. Não é?
Ele sabia que não, sabia que eu não seria capaz. Cativei-me por aquele menino. Mas não poderia... Não era certo. Ele era humano! Não poderia nem ao menos estar conversando com ele!
-Eu tenho que ir, Hussifel...
-Mas por que...?
-Há pessoas que ficaram bravas se eu não voltar...
Subi na janela, e já estava de saída para voltar ao castelo, quando Hussifel tocou novamente em minha mão.
- Você vai voltar pra me visitar não é?Não foi por isso que você veio, Enelya?
Abaixei a cabeça. Ainda de costas pra ele, com receio, respondi da forma mais fria que consegui.
-Sim, Hussifel... Vim e voltarei...
Sumi dali, fugi daquela pessoa que desvendava os meus mais profundos sentimentos com a facilidade que uma pessoa tem de ler um livro escrito para crianças. Ele me lia como esse livro.
Eu estava voltando pro castelo. O vento parou de soprar naquela hora, e, sem saber, eu havia mudado totalmente...

9 de março de 2008

Encontro no escuro

Ainda me lembro bem da primeira vez que vi Hussifel. Era o início de Setembro, mais ou menos dia 15, as folhas de outono começavam a cair e sempre havia aquele vento frio que soprava do alto para bater em nossos rostos, e avisar que ainda havia fagulhas de vida espelhadas pelo mundo. É interessante o cheiro que o vento trás. Muitas vezes é de perfume, de comida, de um odor intragável, mas sempre posso sentir o cheiro de sangue seja por onde eu ando! Naquela noite ele me chamava com ferocidade, adentrava todo o meu corpo como uma ânsia febril que me puxava com força descomunal. E quando o vento e a noite chamam você deve obedecê-los, não importa quem o queira impedir. Quando a noite e o vento chamam, com aquela ânsia, com aquele calor doentio, não existe um único indivíduo no mundo inteiro que te segure, e naquela noite ninguém iria me segurar!
Cornell, o chefe protecionista d’O Castelo tentou me impedir...
Coitado, acho que o único chamado que ele ouviu na vida foi o da barriga dele e o de seu instinto localizado próximo ao pomo de adão. Alguns homens chegam a ser engraçados de tão ridículos, mas Cornell era o tipo de homem repugnante!
- Eu estou saindo, Cornell!
- Sabes que não possuis autorização para tanto, Enelya! – Cornell, general d’o Castelo, eu sei que não possuía permissão, mas eu estava acima dele ali, meu pai era dono daquele Castelo, e ele só mandaria ali enquanto meu pai não estivesse, e ainda assim sob minha supervisão. Ele era sempre tão austero, mas de certa forma era bonito, jovem... Foi tão rude comigo naquele dia! Puxou-me pelo braço e mostrou os seus caninos, como se me desafiasse...
-Não preciso que tu me digas o que fazer! – Meus olhos brilharam vermelhos sangue, causa do ódio que Cornell provocava em mim.
-Não é porque tu tens sangue puro e possui alta linhagem que podes fazer tudo o que quiseres, menina!
-Eu não sou uma princesa trancada em um castelo de sanguessugas miseráveis e nojentos! – Dessa vez eu tive que provoca-lo, mostrar os meus caninos! Fazê-lo recuar, deixa-lo com medo, acuado como um cão sarnento que era.
Bati a porta na cara daquele verme, sai e segui o vento que me chamava, sai e deixei o ruído de dentro d’O Castelo pra trás, para longe de minha audição e compreensão. Queira esquecer tudo aquilo, seguir meus instintos e adentrar pela noite. Esquecer um pouco dos problemas d’O Castelo.


Escuro e fétido à sangue, não havia outro modo melhor de falar sobre O Castelo
-Quem ela pensa que é pra ti tratar desse jeito, Cornell, meu amor?- Como havia aquelas mulheres de busto saliente e decotes roxos espremidos contra o próprio seio, que se atiravam para cima de Cornell pelo bel prazer de sua linhagem e pelo seu poder. Não duvido nada que essas se deitavam e se regorzisavam com ele, esperando sempre carinho, afeto , dinheiro e poder em troca
-Me largue!!!!!- Apesar de tudo , Cornell não era o tipo de homem burro o suficiente para dar chance a mulheres como estas. Ele não. Ele era inteligente arquitetônico, estrategista. Precisava de uma mulher que tivesse pulso tão firme quanto o dele para ascender de cargo, precisava de mim...
O que me lembro do que era O Castelo são fatos bem peculiares e talvez de mínima importância. Ele é um castelo muito antigo, é verdade, mas sempre esteve bem conservado, parecia está ali de pé a anos sem que nada pudesse fazê-lo desabar. Havia muitas tapeçarias na parede, muitos tapetes vermelhos no chão que guiavam salas e túneis inacabáveis, entradas secretas e jardins escondidos.
Cornell se dirigia agora ao salão principal, da onde saíra com pressa e orgulho em seu peito, para me reter enquanto saía. O salão principal era redondo, e assim como todos os outros cômodos possuía uma arquitetura gótica. . Em frente a uma lareira havia uma enorme cadeira vermelha, espalhado por todo o salão circular estavam vários estofados com várias pessoas sentadas conversando, rindo, debochando e se deliciando com prazeres carnais. Cornell se sentou em sua cadeira em frente à lareira com as mãos juntas sobre o peito ficou ali, parado por muito tempo. Ou pelo menos foi assim que lhe tinha parecido, antes de ser estupidamente interrompido por jovem vestido elegantemente todo de preto com algumas escrituras desconhecidas em tintura vermelha estampada em sua roupa, e com duas taças de vinho nas mãos, entregando-lhe uma delas.
-Cornell... Tu não devias deixá-la sair por aí assim....
-Eu sei!
-Ela não poderia deixar o castelo sem a permissão de nosso senhor supremo...
-Eu sei!
-Ela anda muito desobediente a ti ultimamente!
-EU SEI! EU SEI! EU SEI! O que achas que ainda pouco tentei fazer, Andrew?! Mas tu sabes do que temo... Ninguém pode controlá-la! Insolente!Insulta nosso povo e nosso clã, insulta nosso castelo e nosso senhor, e ainda assim pode sair ilesa? – A fúria tomava por completo Cornell fazendo-o jogar a taça de vinho na lareira com ferocidade assombrosa – Quando ela voltar ela terá que me enfrentar! Ela verá que não pode comigo, pelo menos aqui... Sentirá o meu poder e verá que eu não brinco...
-Olha meu senhor acho melhor se acalmar! Se tu pretendes mesmo se casar com ela, terá que se acostumar com aquele “gêniozinho”! – Eram risos e mais risos, debochando de Cornell , estremecendo-o, fazendo-o levantar em uma fúria diabral. E quando entreolha para onde estavam todos não havia mais nada, só frio, silêncio e uma névoa cinza. A solidão o havia tomado por inteiro naquele momento, mas principalmente o sentimento de desespero e vingança!


( continuação do cápitulo no próximo post)

Capitulo I

Hoje, parece-me tudo um sonho. Um sonho doce meu, um pesadelo que vivi, um futuro construído com Hussifel. Seria mais certo dizer que foi ele quem construiu tudo isso. Um demônio vindo dos infernos pra transformar a terra em céus.
É engraçado como ele traçou o seu próprio destino: como se sempre soubesse e nunca se arrependesse!
Tem pessoas que não percebem os erros que cometem. Hussifel percebia quase todos, se não todos, por assim dizer; e ainda tentava melhorar o erro dos outros.
É estranho falar dele depois de sua morte. Sinto muita falta... Sem ele eu não encontrei o meu sentido, estou perdida como estava antes de conhecê-lo. Perdida em um labirinto cheio de direções, sem saber tomar um rumo certo. E ele sempre soube o rumo a se tomar...
Tu me fazes tanta falta, Hussifel... Todo o dia deixo uma rosa na sua lápide, no cemitério que dá aos fundos do castelo. Todo o dia eu choro...
Lembro dele me pedindo para nunca chorar. Mas se ele soubesse a dor da ausência que causou com a sua morte... Mas era assim que deveria ser!
Hoje, escrevo em nome dele. De um grande homem, de um grande vampiro. Meu nome é Enelya Vardamir, vampira do clã d’O castelo, e escrevo sobre Hussifel Diethiel, o grande transformador de vidas, o realizador de sonhos e o protagonista dessa história.

8 de março de 2008

Prologo

E antes que o céu se fizesse vermelho e a escuridão surgisse, há sempre o inesperado. Sempre há uma segunda chance aos desesperados, e uma salvação ao suplício dos desabrigados.
O vento bate mais do que forte hoje, a lua está cheia e de longe se ouve um grito. Um grito desesperado de dor profunda, como se algo maligno estivesse saindo do corpo daquela mulher.
“Ela pode morrer. Nunca vi mulher nenhuma gritar tanto quanto esta.”
“Ela vai sobreviver! ela TEM q sobreviver!”
“Mas... doutor, a hemorragia está aumentando...”
“Vai já parar. Um pouco mais de paciência, a criança já está saindo!”
Um grito final, o grito mais forte, mais agudo, o grito de um animal sendo partido em dois. O sangue derramado em nome de alguém que talvez nem o mereça tanto, mas quem sabe o mereça mais do que qualquer outro.
“É um menino!!!!”
“Que nome a senhora dará a ele, senhora Diethiel?”
“Senhora Diethiel está nos ouvindo...?”
“CHEQUEM A PULSAÇÃO!Ela não pode morrer agora....”
“Doutor ela parece que está...”
E em um ultimo suspiro e uma última lagrima só se pôde escutar o nome da nova criança, baixo como o vento que soprava na sala de cirurgia, dolorido como o destino dela.
“...Hu...Hussifel”